quarta-feira, 3 de março de 2010

Port Au Prince 2 de Março de 2010, por Ricardo

Era uma casa, muito engraçada,
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela não,
Porque na casa não tinha chão.
Ninguém podia dormir na rede,
Porque na casa não tinha parede.
Ninguém podia fazer pipi
Porque pinico não tinha ali.
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos numero zero.

Eu nunca tinha entendido essa música nos meus anos de escola.
Mas descobri que esta casa existe, fica aqui no Haiti. Na verdade, existem milhares de casas deste tipo por aqui.

Estivemos andando por uma comunidade aqui perto do orfanato e encontramos um acampamento cheio de tendas feitas de pau fincado no chão. As paredes são apenas tecidos amarrados nos paus e a mobília interna se resume a uns pedaços de papelão no chão.

Andando pela cidade, encontramos alguns pontos de venda desses paus para montar “paredes”.

Encontrei vários homens na comunidade que mostraram suas casas, eles estão morando com suas famílias e 4, 6, 8 filhos nessas tendas. Outro dia quando começou a chover, fiquei pensando nessa gente, dentro dessas “casas”. O pior aconteceu quando voltamos para o orfanato, algumas crianças pegavam em nossas mãos enquanto andávamos de volta para o orfanato. Quando chegamos na rua do orfanato, tivemos que dizer tchau, porque eles não podem chegar perto de onde estamos. O orfanato é protegido por guardas que usam metralhadoras calibre 12.

É muito triste ver a situação dessa gente toda, e não conseguir fazer nada por elas.

Conversei com algumas pessoas, para ver se conseguimos levar lonas para essas famílias, mas é difícil arruma, e entregar de forma ordenada.

Nesta mesma comunidade, quando uma das meninas da nossa equipe fazia uma brincadeira com elas, ela perguntou para as crianças qual era o sonho da vida delas. Uma menina respondeu: quero ser médica, outro menino respondeu: quero ser engenheiro. O terceiro menino respondeu: “meu sonho é ser branco!”

Na hora eu até achei engraçado... mas pensando refletindo na resposta dele, na verdade é muito triste. Este menino quer ser qualquer coisa menos um haitiano negro.

Os brancos tem ajuda, tem carros novos, aviões, água, comida, remédios, médicos, tudo que eles não tem. A conclusão dele é muito simples: ser banco é a melhor coisa que pode acontecer para ele. O sonho da vida dele é ser qualquer pessoa menos ele mesmo.

Ao ajudarmos, precisamos ter isso em mente. Neste momento, o país passa por um momento de tremenda comoção mundial. Tudo foi destruído. O governo foi destruído.

O Líder da JOCUM em Port Au Prince nos contava que aqui no Haiti a educação custa muito caro. Por isso, as famílias do interior vendem uma vaca, uma cabra, tudo o que possuem para que o filho mais velho possa estudar na universidade e melhorar a condição de vida de toda a família. Este filho vai estudar e será responsável por toda a sua família.

Quando aconteceu o terremoto e as universidades foram destruídas, matando a maioria dos estudantes, essas famílias do interior não perderam somente os seus filhos amados. Elas perderam seu futuro, sua oportunidade de melhorar sua condição de vida.

É neste contexto, que o povo haitiano está vivendo.

Apesar disso, o povo haitiano é EXTREMAMENTE alegre. Dá prá ver nos momentos de louvor. Eles cantam, pulam e dançam com muita liberdade. Acho que isso faz com que a vida para eles fique mais fácil de se levar diante dessa situação.

Hoje, tive a oportunidade de assistir o jogo do Brasil contra a Irlanda numa barraca dos policiais haitianos.

Por toda a cidade, vimos aglomerações em frente a televisões. E nesta barraca, acompanhei o segundo gol do Robinho diante da seleção da Irlanda. A vibração e a torcida deles, é tão intensa quanto a nossa.

Descobri então porque eles se identificam tanto com a gente. A paixão pela seleção brasileira de futebol.

A maior vantagem é que eles não são como os brasileiros, que se consideram mais entendidos do que o técnico.

Estou muito agradecido pela oportunidade de conhecer este país tão devastado, mas ao mesmo tempo tão cheio de esperança.

Ontem estivemos numa cidade a uns 100 km da capital. Montamos uma clínica móvel para a comunidade perto de um hotel, cuja dona nos solicitou que fossemos levando remédios e atividades esportivas.

Nunca veio nenhum médico naquela comunidade e ontem pudemos ajudá-los a receber uma pequena ajuda a eles.

Um de nossos membros da equipe, o Danilo, conheceu um menino haitiano que aprendeu a falar português com um soldado brasileiro carioca. Este soldado pagou a escola para ele. Ele fala com um pouco de sotaque carioca, mas se expressa muito bem. Danilo perguntou a ele qual era o sonho dele.

O menino então respondeu que o sonho da vida dele é ser o Presidente do Haiti. Ele tem 14 anos.

Este menino disse que quando for presidente, vai dar escolas de graça para todo mundo. Hoje é muito caro estudar no Haiti. Ele consegue ganhar a vida sendo tradutor para os estrangeiros que vem para cá.

Que diferença, o outro menino quer ser branco. Este aqui quer ser o presidente da Nação.

O Haiti tem esperança.

Precisamos investir em meninos como este, que vão trazer transformação a longo prazo, que vão dar a vida para que este país seja um lugar de justiça e liberdade.

Os diamantes do Haiti estão aqui. Deus já deu a eles a solução para os problemas. Nossa missão é encontrá-los e ajudar a lapidá-los.

Um abraço

Ricardo

2 comentários:

  1. Contem com minhas orações ! Deus está apaixonado pelo Haiti e voces estão fazendo parte desse sonho que nasceu no Coração do nosso Amado !
    Deus abençoe a vida de vocês para assim abençoarem essa nação!

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  2. onde voces se reunem ai? quero que meu marido conheçam voces. ele esta na base do exercito ai. meu email é renatasantoscosta@yahoo.com me mandem um email por favor

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